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Aproveita hoje, é mais tarde do que pensas!
Ao ver a objetiva com o seu longo e intimidador cano apontado a si, Adi Hudea, uma menina Síria de apenas 4 anos, ergueu as mãos em sinal de rendição. Pensou tratar-se de uma arma.
Nas suas memórias o filósofo Jean-Paul Sartre escreveu " Eu era uma criança, esse monstro que os adultos fabricam com as suas mágoas...". Nada mais apropriado.
Se para alguns adultos é "só" uma câmera e "só" uma criança, para muitos outros e para a pequena Adi é um desconhecido que só lhe pode trazer terror, medo e morte, coisas que geralmente os estranhos trazem.
Não se terá enganado pois a foto é de 2012, apesar de só agora se ter viralizado, e tudo continua na mesma ou ainda pior.
Despertou-me a curiosidade sobre a sua obra, que isto da poesia só funciona por curiosidade, quando há uns anos atrás soube que Helberto Hélder em 1994 recusou receber o prémio Pessoa pedindo ao juri: "Não digam a ninguém e deem o prémio a outro".
Criado o interesse fui atrás da sua obra. Pouco encontrei. Soube então que o poeta só era dado a primeiras edições que rapidamente esgotavam. Encontrar poemas seus só na Internet ou então no especulativo mercado alfarrabista.
Agora que se lamenta a sua perda, o maior poeta Portugues da segunda metade do século XX, lamentamos todos, acho, não termos estado mais atentos à sua obra e quiça prestar-lhe a devida homenagem ainda em vida. Em jeito de homenagem transcrevo parte de um curioso poema seu. Que descanse em paz.
A última bilha de gás durou dois meses e três dias.
a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas, (...)